Conforto para os animais "compost barn".

Não é novidade que os produtores de leite no Brasil estão buscando com maior frequência informações sobre o compost barn.

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O ‘boom’ do sistema ocorreu após algumas suposições como a maior facilidade de manejo e a finalidade clara e adequada para os dejetos dos animais. Confira abaixo a entrevista realizada com Ana Luiza Bachmann Schogor, Professora Doutora do Departamento de Zootecnia da UDESC Oeste. Ela também será palestrante do Interleite Sul 2018 e o tema da sua palestra é “A movimentação em direção ao confinamento via compost barn: números e constatações”. As respostas da entrevista contaram com a ajuda de Willian Maurício Radavelli (Zootecnista, M.Sc.).

MilkPoint - Recebemos muitos contatos no MilkPoint de produtores de leite em busca de informações sobre o compost barn. Por que este sistema de produção deu um "boom" no Brasil nos últimos tempos?

Ana Luiza Schogor: “Essa expansão considerável que o sistema compost barn tem tido nos últimos tempos, se deve a alguns fatores. Não os citando em ordem de importância, mas alguns deles são: transição para um sistema de confinamento com menor custo de implantação e a adoção de um sistema que promove o bem-estar animal (principalmente em quesitos de ambiência animal), manutenção de animais mais limpos (principalmente no momento da ordenha) e com menores índices de claudicação. Em pesquisa recente que acabamos de finalizar aqui no Oeste de Santa Catarina, encontramos também como justificativa para adoção do compost barn a necessidade de se facilitar o manejo dentro de propriedades leiteiras, que exploravam a atividade em sistemas tanto a pasto quanto a pasto com suplementação. Muitos produtores relataram que estes sistemas (pastejo + suplementação), na região, se tornaram inviáveis, devido à dificuldade de manejo com um aumento desejado do rebanho. Dificuldades que se multiplicam em períodos de grande variabilidade ambiental. Os produtores também relatam as dificuldades dos animais em percorrer grandes distâncias, muitas vezes em terrenos acidentados (o que aumenta os gastos energéticos e diminui a eficiência produtiva dos animais). Aliado a isso, cada vez mais, a escassez de mão de obra também tem pesado na tomada de decisão dos produtores, pois alguns relataram que ou 'fechavam os animais', ou paravam com a atividade”.

MilkPoint - Quais são os principais diferencias do compost barn?

Ana Luiza Schogor: “Definitivamente, bem-estar animal e conforto. Este conforto proporcionado pela cama, aliado a manejos corretos (nutricional, reprodutivos, de ordenha, sanitário), resultam em uma somatória muito positiva para a produtividade animal. Além disso, pode-se dizer que não é um sistema tão padronizado como o free-stall, o qual demanda um bom planejamento prévio das instalações e equipamentos. Muitos compost barns têm surgido de adaptações de antigas instalações, e têm apresentado resultados satisfatórios quanto à produtividade animal e qualidade e características de cama. Podemos destacar também a forma de tratamento dos dejetos, que em sua grande maioria (depositada da área de cama), deixa de ser um problema ambiental e se transforma em adubo de excelente qualidade. E, nos quesitos de alojamento, tal sistema permite a escolha de animais de raças e tamanhos distintos, devido ao local de descanso não apresentar delimitação para cada animal (sem entrar no mérito da questão da uniformidade de lotes, e sim da possibilidade de escolha por parte do produtor)”.

MilkPoint - Como ele impacta no bem-estar dos animais e na saúde dos mesmos? E na produção de leite?

Ana Luiza Schogor: “Em nossa pesquisa, realizada entre janeiro e março de 2017 (portanto pleno verão), observamos que o ITGU (Índice de Temperatura de Globo e Umidade) interno e externo das instalações avaliadas foi de aproximadamente 77 e 84, respectivamente. Este valor deveria estar abaixo de 74, para podermos afirmar que os animais não se encontravam sob estresse calórico (para mais informações ver aqui). Assim, podemos notar que os valores internos estão um pouco acima dos desejáveis. Todavia, vale salientar que este é um valor médio das 30 propriedades avaliadas, e parte destes compost barns não possuíam sistema de ventilação para resfriamento dos animais. Mas em comparação aos valores externos, fica evidente a importância do fornecimento de abrigo adequado aos animais, frente à radiação solar direta. Quando analisamos a frequência respiratória dos animais, 93,7% se enquadraram por apresentar de 40 a 80 movimentos/minutos. De acordo com Silanikove (2000), valores entre 40 a 60 movimentos/minuto, representam baixo nível de estresse e de 60 a 80, estresse médio. Além disso, os animais apresentaram baixas taxas de claudicação (avaliamos mais de 1000 animais estabulados em compost barns, no momento em que os animais saíam da ordenha, e, portanto, em piso firme). Em nossas pesquisas, não avaliamos in loco o aumento de produtividade. Todavia, podemos afirmar que o ‘pacote tecnológico’ adotado quando da adoção do sistema compost barn, seguramente resulta em aumento de produção”. 

MilkPoint - Você saber dizer quantos produtores são adeptos ao sistema hoje e a região onde há mais modelos instalados?

Ana Luiza Schogor: “No momento de nossa avaliação (até março de 2017), em nove municípios do Oeste catarinense, eram 43 galpões tipo compost barn, mas outros estavam em construção os quais até então, não entraram no levantamento. Atualmente, estamos realizando um levantamento de campo com cooperativas da região, para termos mais dados sobre o número de compost barns instalados. Com relação aos locais de instalação, temos observado ou recebido informações de que não só a região Oeste de SC, mas o noroeste do RS e o sudoeste do PR são regiões em que a implantação de galpões tem se dado de forma rápida e crescente”. 

MilkPoint - O processo de transição de sistema (para quem opta por trabalhar com o compost) basicamente ocorre de que forma? Quais são os principais desafios?

Ana Luiza Schogor: “Os desafios são: planejar corretamente a instalação antes de construí-la; fazer um planejamento da atividade e qual a produção diária se almeja, para assim projetar a instalação para uma determinada capacidade/lotação; planejar as questões alimentares, pois ao contrário de sistemas semiconfinados, o fornecimento de alimentos passa a ser totalmente no cocho. Para identificar pontos importantes nessa transição entre sistemas, em nossa pesquisa, avaliamos se os produtores rurais receberam assistência técnica para a implantação do compost, ou se foram procurar alguma informação prévia, antes de instalar o sistema. Surpreendentemente, apenas 40% dos produtores receberam alguma orientação técnica para a implantação do sistema. Em sua maioria (60% dos produtores), buscaram observar outras propriedades e contaram com suas próprias experiências construtivas para implantação do galpão, fato que resultou em grande diversidade nos aspectos estruturais das instalações. De forma geral, os animais não apresentam dificuldade de adaptação com o sistema compost barn, pois em algumas situações, os animais estavam em um ambiente tão desafiador, com grande presença de lama, sem proteção contra a radiação solar direta, e com dificuldade para acesso a água, que qualquer melhoria realizada foi capaz de proporcionar resultados positivos”. 

MilkPoint - Deixe um recado para os produtores que estão pensando em migrar o seu sistema de produção para o compost barn. 

“Planeje antes de construir. Hoje em dia, pensar em aspectos de sustentabilidade como menor produção de dejetos, uso eficiente da água, otimização da mão de obra, será um investimento para o futuro. Quando do início do compost, trabalhar com maior área de cama disponível por animal é uma atitude ‘sábia’, pois é melhor trabalhar com camas mais secas (apesar da menor taxa de compostagem), do que com camas mais úmidas. Alta umidade pode inviabilizar uma cama! Se for adaptar uma instalação, identifique as limitações dela, e o que seria necessário fazer para superar essas limitações (exemplo: baixo pé-direito aliado à necessidade de maior capacidade e eficiência de ventilação). E reflita! Pois determinadas adaptações iniciais que são realizadas com o objetivo de redução de custos, podem dificultar ou modificar a rotina de manejo. Então tenha isso em mente, para não se arrepender posteriormente. De nada adianta investir em instalações modernas, se o restante das tarefas de casa não são cumpridas. Pense que além da melhor ambiência e conforto que será proporcionado pelo sistema, devemos investir nos demais fatores que interferem na produção (nutrição, manejo, reprodução, genética) para aumentar os índices produtivos, e viabilizar o sistema a curto, médio e longo prazo”.

 

Fonte: MilkPoint