Influência da mastite na transferência de imunidade passiva para bezerras leiteiras
Colostro de vacas com mastite clinica ou subclínica pode ou não interferir na transferência de imunidade passiva (TIP) para bezerras leiteiras? Dentre os fatores que influenciam, se destacam: o momento da ingestão do colostro, o método, o volume de colostro administrado, a concentração de imunoglobulina e a idade da mãe.
A mortalidade de bezerras nos primeiros meses de vida é um dos principais prejuízos econômicos enfrentados pela bovinocultura leiteira mundial, sendo a falha na transferência de imunidade passiva (FTIP) um fator de grande contribuição.
Para o sucesso da atividade é necessária a implantação de metas que permitam a sobrevivência, a sanidade e desenvolvimento dos animais, admitindo índices de mortalidade e morbidade inferiores a 5 e 10%, respectivamente do nascimento ao desmame, dessa forma o manejo adequado do colostro é indispensável.
A placenta dos bovinos é do tipo sindesmocorial, impedindo o encontro do sangue da vaca com o sangue do feto e, consequentemente, a transferência intrauterina de imunoglobulinas. Portanto quando o bezerro nasce e o seu sistema imune ainda não é capaz de produzir anticorpos em quantidades necessárias para o combate de infecções.
O colostro é um alimento rico em anticorpos, principalmente imunoglobulina G (IgG), que são absorvidos intactos e funcionais pelas células epiteliais do intestino delgado dos bezerros. Esse alimento caracteriza-se por uma secreção viscosa da glândula mamaria produzida imediatamente após o parto por um período de três e seis dias. É composto por 20% de proteína, 18,5% de sólidos não gordurosos, grandes quantidades de açúcares, minerais e vitaminas.
A capacidade de absorção de anticorpos no intestino dos bezerros vai reduzindo progressivamente após as 12 primeiras horas de vida, fundamentando a importância de fornecer o colostro imediatamente após o nascimento.
Dentre os fatores que influenciam na transferência de imunidade passiva (TIP) para os neonatos se destacam o momento da ingestão do colostro, o método e o volume de colostro administrado, a concentração de imunoglobulina e a idade da mãe.
Existe uma preocupação por parte dos produtores se o leite de vacas com mastite pode ser fornecido para as bezerras ou irá interferir na transferência da imunidade. O descarte deste leite gera grande prejuízo, mas a perda de bezerras de alta genética também é um risco que o produtor não quer correr, fazendo com que pesquisadores da área realizassem estudos buscando esta resposta.
A mastite ou mamite conceitua-se por uma infecção da glândula mamária causada especialmente por microrganismos, tais como bactérias (principalmente), fungos, leveduras e algas. A inflamação é um dos componentes da resposta imune da vaca para eliminar os agentes causadores, neutralizar toxinas produzidas pelos microrganismos e auxiliar na regeneração dos tecidos mamários afetados.
Para o diagnóstico de mastite normalmente é realizado através da contagem de células somáticas, exame físico do úbere, aparência do leite, Califórnia mastite teste (CMT) e cultura bacteriana.
Quando as amostras de colostro são submetidas ao exame do CMT há divergências sobre a porcentagem de reações negativas ao teste, provavelmente por ser um método semi-quantitativo e apresentar sensibilidade na detecção de amostras com alto número de células somáticas. No entanto mesmo assim estudos comprovam que o CMT é uma ferramenta útil na detecção de mastite no pós-parto imediato.
Vacas mais velhas produzem um colostro rico em imunoglobulinas pelo maior contato com antígenos causadores de doenças, porem a ocorrência de mastite clínica em vacas multíparas é maior em relação às vacas primíparas.
As glândulas mamárias sem histórico recente de mastite têm grande número de células somáticas nos primeiros dias da fase colostral, e decréscimo nesse valor com a evolução dos dias.
O periparto é o momento mais susceptível para infecções mamárias ocasionando profundas mudanças nos constituintes lácteos, alterando as características físico-químicas e organolépticas do colostro.
Em LEITE et al (2017), ele avaliou a TIP em bezerras alimentadas com colostro oriundo de vacas diagnosticas com mastite subclínica. Para o diagnóstico de mastite após a parição as vacas eram levadas a sala de ordenha, para coleta asséptica das amostras de colostro.
A primeira alíquota obtida foi semeada em placas de Petri contendo meio de ágar sangue de carneiro (5%) e ágar Sabouraud, respectivamente mantidas a 37ºC por 24 a 72 horas e à temperatura ambiente por 10 dias. Foi constatado crescimento bacteriano de três colônias diferentes, caracterizadas conforme os kits comerciais. Foram coletadas amostras de sangue dos bezerros antes e pós serem alimentados com o colostro de suas respectivas mães.
A avaliação qualitativa da concentração de imunoglobulinas no sangue dos bezerros foi feita por meio do Teste da Turvação pelo Sulfato de Zinco (TSZ). Os bezerros recém-nascidos que receberam pool de colostro proveniente da glândula mamária com ou sem infecção bacteriana demonstraram reação negativa na prova de TSZ antes da ingestão do colostro e reações positivas após a ingestão.
Esse resultado é condizente com os achados de SANTOS et al (2013), que comparou a colostragem de bezerras alimentadas com colostro de vacas acometidas com mastite clínica e subclínica utilizando isolamento microbiológico positivo e escores positivos ao teste de CMT. A prova do CMT foi realizada imediatamente após o parto com o reativo CMT.
Uma amostra representativa por quarto mamário, contendo 10 mL de colostro, foi utilizada para a contagem de células somáticas (CCS) no equipamento DCC. Aproximadamente 3 mL de colostro por quarto mamário foram colhidos em tubo do tipo Falcon estéril, com capacidade de 15 mL e destinados ao isolamento microbiológico. As amostras foram homogeneizadas suavemente e semeadas em meio de ágar sangue de equino desfibrinado e MacConkey, e incubadas a 37ºC. As culturas consideradas positivas foram as que apresentaram o crescimento de pelo menos três colônias idênticas em um mesmo meio de cultivo.
As vacas com mastite assintomática ou clínica apresentaram valores de células somáticas superiores aos sadios ao longo de todo o período experimental. Já o sangue dos neonatos foi colhido antes e após a colostragem. A concentração sérica de proteína total foi determinada pelo método do biureto, utilizando-se reagente comercial. Os bezerros que receberam colostro de vacas com mastite subclínica e clinica apresentaram os menores valores de IgG, o que pode ser justificado pela menor disponibilidade de receptores presentes nos enterócitos, em virtude da ligação dos microrganismos.
Portanto Santos et al (2013), observou no presente trabalho que não indicaram FTIP e a pequena variação observada pode ser relacionada, provavelmente, ao fato de que tanto colostro estéril quanto colostro com cultivo bacteriológico positivo podem ter sido ingeridos simultaneamente por um mesmo animal e, portanto, o colostro estéril pode ter contribuído para a transferência satisfatória de imunoglobulina.
Por fim, o fornecimento de colostro com mastite clínica e subclínica não influencia na transferência de imunidade passiva para bezerras, apesar dos níveis de IgG terem sido menores em bezerras alimentadas com colostro positivo para mastite, não apresentaram FTIP, pois a inflamação não costuma acometer todos os quartos mamários assim o colostro estéril oriundo do teto que não tem mastite supre as possíveis falhas.
FONTE: MILKPOINT.